quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Insights e contradições

A aula estava tão interessante que num dos cadernos tinha uma foda mal dada desenhada (tinha até o fiofó do homem ilustrado na peça) acrescida do desenho de uma pistola de um lado do papel e de outra pistola apontada pra cabeça de uma pessoa do outro. Tinha uma aranha no centro. A simples apreciação estética do desenho amador feito a caneta Bic no caderno pautado dizia muito sobre o que acontecia na sala e que o desenhista estava realmente muito entretido.

Um check list do que pode e o que não pode, o que deve e o que não deve ser feito nos textos era apresentado sem domínio técnico. Os professores usam a palavra "tautologia", "pleonasmo" e "redundância" e ao serem perguntados sobre os significados das figuras de linguagem, uma vez que detectar a diferença não é tarefa simples, titubearam. Boa parte da sala nunca havia ouvido falar a palavra tautologia... eles passaram um video de stand up comedy para dispersar, era mesmo um plano B pra esse tipo de situação.

Para completar, todas as "regras" impostas eram violadas na apresentação proposta. Falavam em dar credibilidade para seu texto quando você o escrever. Qual credibilidade uma pessoa lúcida dá para conselhos violados sem querer por quem os proferiu?

Salvou uma coisa, que, aliás, vem sendo repetida sucessivas vezes: O que interessa? O que quer falar? Como vai contar? Nesse texto que voz fala, por exemplo: interessa o desenho da foda mal dada. Quer falar que para dar aula é básico se preparar consistentemente, pois a platéia percebe imperícia como cachorro percebe medo. Contou passo a passo a sequencia de ações.

sábado, 26 de janeiro de 2013

Fazendo tudo e só o que podemos.

Toffee - estrela de fevereiro do calendário Celebridade Vira-Lata 2013
Não tenho poder de combater a imbecilidade humana. Não tenho capacidade para lutar contra fogos de artifício, rodeios, maus tratos contra animais, crianças, mulheres, negros, homossexuais, idosos, deficientes. Contra a corrupção, então, só o que posso é me manter honesta. Tudo isso me sensibiliza, entristece, envergonha e oprime. Sou humilde o suficiente para aguentar o sofrimento em silêncio diante da minha impotência de pessoa comum. Sou apenas um ser humano limitado pela incompetência emocional, intelectual, física, financeira e social, além de tudo, sei que gritar na internet é sem resultados e sem valia.

Inconformada com o lado feio da existência, não desisti e pensei no que posso fazer. Posso ser gentil com as pessoas e perseverar nessa lógica. Todo mundo pode sorrir. Todo mundo pode utilizar com frequência POR FAVOR e OBRIGADO. Todo mundo que dirige, pode dar passagem no trânsito. Coisas simples, que desencadeiam maravilhas complexas.

Depois de assimilar a responsabilidade e obrigação de praticar coisas simples, pode-se ter mais critério para boas atitudes. Pensei em como posso ajudar na CAUSA ANIMAL. O óbvio, se quer atuar em qualquer causa, a ação tem que ser EDUCACIONAL. Para conseguir a atenção das pessoas e engajá-las, nada como bom humor e contar que finais felizes existem. Lembrar o porque da vida ser tão mágica e valiosa pra todos. Está aí o Celebridade Vira-Lata.


A experiência no trabalho social me convoca a insistir para que as pessoas entendam e abracem sua responsabilidade. O que eu percebo de gente efetivamente bem-intencionada e capacitada com atitudes levianas e declarações vazias é o que mais me preocupa. Antes de ir pra linha de frente, eu achava que a apatia e indiferença eram o problema, mas hoje, sei que sem querer, as pessoas atrapalham a evolução de maneira ativa.

Alimente seu lado que ama, faz, transforma e participa, sempre com classe e mansidão. É essa voz que tem que ser fortalecida dentro de você. Toda vez que um movimento positivo é iniciado amigos de jornada se unem e os resultados são indescritíveis.

Agradeço a todo mundo que me ajuda a fazer o projeto: quem trabalha nele, quem compra o calendário, quem faz os mutirões, quem leva os animais. Essa troca de energia, sem dúvida, é o segredo do sucesso. Afinal, qual é a definição de sucesso se não SER FELIZ?

Já tem o calendário mais lindo e transbordante de boas energias como amor, amizade, solidariedade e bom humor? Compre em www.celebridadeviralata.com.br .

Tédio criativo

Conheça bem o seu leitor e escreva pra ele, blablabla, identifique o problema/questão central para escrever sobre isso, blablabla, o que é importante, faça uma lista, junte o interessante...

A proposta do exercício na sala de aula era mágica: escrever a escaleta do discurso de posse de Barack Obama e depois bater com o real. A engrenagem funcionava com um brainstorming sobre o que era importante falar, em ambos aspectos subjetivo e objetivo e então só restaria dar fluência pro texto. A opção do professor para quebrar o gelo, foi escalar a classe para participar, o que é bem interessante, pois as pessoas passaram a ter rostos, vozes e opiniões. Uma senhora, que é um mulherão, se destacou pela inteligência, cultura, dom da palavra, charme, estilo. A dupla cabelo infernal e DDA cometam entre elas que querem ser igual a ela quando crescerem.

O problema começa porque o professor não tem a articulação necessária para mediar a participação da platéia. Um exercício que poderia ser super interessante e dinâmico promoveu um tédio que rendeu diversos bloquinhos de anotações presentes na sala em obras de arte. No bloco da cabelo ruim, por exemplo, havia belos desenhos do Snoopy, Garfield e Calvin. O que provocou tal fenômeno foi uma votação inútil e interminável para saber em que ordem a classe queria que a escaleta do discurso ZZZ e um pernilongo sobrevoava a sala. Seria ele o mesmo da aula anterior? A cabelo louco se perguntava, em meio a outros pensamentos sobre esse tipo de curso não ajudar a pegar ninguém, então, tinha que ser mais forte em valor agregado e, com certeza, mais divertido. O telefone dela toca, ela sai pra atender. Pra sua surpresa, está rolando o coffee break do outro curso.

Ela desliga o telefone e decide ficar alí assistindo as pessoas do outro curso, dois gatinhos estão no sofá ao lado dela, ela não titubeia: pergunta o se o curso que eles estão fazendo agrada e o papo desenrola. Na cabeça dela, fugir da aula pela qual ela pagou um milhão de dólares nunca fez tanto sentido: naquele momento, ela exercitava sua capacidade de fazer amigos simultaneamente a olhar pra homens bonitos. Aí sim. Isso é divertimento.

Durante o coffee break da classe dela, ficou eufórica contando o feito. Voltou pra aula feliz, e até concentrada. Deu até pra aproveitar um insight: o mundo das idéias é seu campo de batalha. Mas a pegada da aula se manteve entediante, tinha até uma menina pintando as unhas (é, é isso, com esmalte que exalava devidamente seu cheiro pela sala). Agora os planos pra próxima aula é tentar vender calendários em prol dos animais. Afinal, alguma coisa sempre, em qualquer lugar, tem que render.




quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

bullying silencioso

A aula começa e a primeira indicação é o discurso de posse do gostoso do Barack Obama, legal, o cara é tudo de bom mesmo... e então começa a historinha do escritor que acha que é lobo, quer navegar bêbado no barco naufragante, e na verdade descreve como se sente diante dos fatos da sua vida através do seu filme selvagem. A atmosfera é "the same old story" sobre a densidade emocional dos gênios da literatura. ZZZZZZZZ tem um pernilongo gordo sobrevoando a sala que traz na cabeça da platéia a imagem e o som daquelas maravilhosas raquetes elétricas de esturricar mosquito.

A primeira parte da aula reforçava insights que não podem ser negligenciados como: quando se escreve, a carga da experiência pessoal sai no papel. Não só os fatos, mas o que pensamos e sentimos sobre eles também aparecem. A história é contada e o leitor sente o que quem escreveu sente. Quando você encontra quem usa a mesma experiência que você para aprender alguma coisa, você encontrou seu leitor.

Enquanto uma aula que é portadora de DDA desenha tudo o que o professor fala pra tentar se manter concentrada. Intervalo.

Ao chegar do intervalo alguém faz uma piada sobre o bilau do Menelau e quando a tia sentada na segunda fileira ri, ergue sua taça transbordante de vinho que quase derrama em seu casaco branco. Uma moça de cabelo infernal, sentada ao lado da DDA comenta sobre o vinho. A do DDA dá uma risadinha maldosa e mostra o que, além da taça transbordante, a senhora do casaco branco também traz consigo um copinho de plástico transbordante de biscoitinhos e as duas ficam de gracinha babaca no bullying discreto peculiar de quem já está na faixa dos 40. Ah, se elas fossem adolescentes.

Esse bloco da aula caminha entediante. O professor discorre sobre a escrita utilizada como ferramenta de autoconhecimento e autoajuda enquanto ele mesmo utiliza a fala em aula para a seção de elevação da autoestima através de um causo sobre como ele havia sido o herói da musa nerd. Como mulher é foda, a dupla DDA e cabelo infernal começam com bilhetinhos sobre como homem é bobo, os de meia idade ainda mais, que o professor era gato quando mais novo e agora tem saudades do assédio feminino num grau que clama por atenção o tempo todo e nem pode ver e aproveitar como a mulher dele é linda, quando alguém solta uma frase: Quer dizer que escrever é auto-ajuda? (descobriu a América), a tia do casaco branco, já tendo terminado sua taça, vira pra traz, com cara embreagada, um sorriso estranho e solta qualquer coisa em reforço à brilhante conclusão do colega do fundão, a DDA já fica toda alvoroçada esperando o comentário maldoso da cabelo infernal que, sem olhar pra comparsa de bullying, escreve, em meio às palavras de crítica ao comportamento "gatão de meia-idade" do professor, um "TÁ LOKA". A DDA simula uma gargalhada e a cabelo infernal desde a ladeira num acesso de riso. Como ela consegue conter o barulho da risada, começa a chorar, e a DDA colocando pilha sussurrando "não olha pra mim". O professor encara as duas, a DDA fica séria enquanto a cabelo infernal tapa os olhos e a boca imaginando ficar invizível. A do cabelo levanta e sai da sala pra ir gargalhar do lado de fora, a tia do casaco branco vai atrás dela pois precisa ir ao toilete dispensar parte do vinho que havia ingerido. A moça fica sem saída pra poder dar sua gargalhada contida. Pra quem tem acesso de riso, como a cabeluda, deixar de soltar a gargalhada é como perder um bocejo ou espirro.

Na volta da moça que passava mal por ter sua gargalhada podada, a DDA, sem perceber a gravidade da situação da cabelo infernal, continua encarando a pobre coitada que começa escrever no papel histericamente 1 2 3 4 5 6 7 8 9 0 sucessivas vezes até acalmar. Assim que ela retoma o controle, a cabelo infernal, que mantém um blog com o diário de bordo do curso, escreve no bilhetinho do bullying para a DDA: todo mundo entra na dança no texto de hoje.

Só falta agora é alguém que estava lá encontrar esse texto.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Exercício de escrita

De verdade, a decisão em 2010 ou 2009, nem lembro, de abrir o blog era só pra isso: exercitar a habilidade de se comunicar. Agora, minha necessidade mudou e o que preciso é de habilidade de contar histórias.

Frequento uma oficina de redação então decidi chegar da aula e contar o que aconteceu lá. Como já tivemos dois encontros, no post de hoje vou contar as duas aulas numa tomada só.

Na terça-feira, o professor que nitidamente é super qualificado, se mostrou um pouco inseguro, estava tateando o público e sacando as expectativas. Nos deu diversos insights, o meu preferido: Escrever tem que ser uma seqüência de ações. Então, quando você entende o que acontece ao seu redor, pode começar a contar a história exercitando a escrita. Se quiser incluir como se sente diante do episódio, vá em frente e tente fazer com que o leitor viva o que você vive.

Tudo ótimo, só que, como ele realmente estava titubeante tentado sacar o público uma "tia mala" começou a bater papo com ele atrapalhando a aula com comentários irrelevantes e isso incomodou bem. Nesse momento da aula, eu comecei a observar os colegas e reparar nas atitudes que expressavam tédio: uma desenhava sua mão no bloco de anotações, outra girava o lápis, outro rabiscava no canto da folha, outro mexia no celular, outra equilibrava o lápis entre a boca e o nariz fazendo beiço. A idéia do diário da aula pro exercício surgiu nesse momento e logo depois a aula acabou, meio no limbo, graças a tia mala.

Hoje, quando voltei, estava ressabiada com o espaço que a tia mala havia ganhado na terça, matutei sobre como pedir diretamente ao professor para controlar esse tipo de coisa, afinal, quem eu quero cativar, eu opto por arriscar e ser honesta. Puxação de saco cai bem quando quero me livrar de alguém.

Levei meus preciosos calendários pra presenteá-lo, pois ele é um editor e jornalista influente e poderia me ajudar na divulgação desse assunto tão importante. Eu estava sentada numa das poltronas do lounge do café, na recepção, junto com minha irmã um senhor tomando seu líquido negro do imperialismo yankee (vulgo, coca-cola, a dele era light), os calendários em cima da mesa central e eu louca pra falar com o tal senhor, mas me segurando. Chegou um amigo e já perguntou dos calendários, eu falei, o senhor me pergunta "é de ONG?" eu nem escondi minha euforia sobre a abordagem dele: "Estava esperando a deixa pra poder te falar disso", conclusão, dois calendários vendidos e subi pra aula apenas com as versões de parede. Presentei o professor e solicitei uma atenção especial sobre o meu tema, se possível, se ele pode me ajudar com divulgação.

E começa a aula. Hoje, o professor estava atento às malices vindas de alunos (eu tenho consciência de que não me excluo do grupo mala, acredito que malice seja intríseco ao ser humano), já controlava bem melhor o ritmo.

O conteúdo linkou demais o que eu já estudei na oficina de roteiro e venho sendo orientada pelo meu mestre amado: ESCALETA. Mostrou um poema do Fernando Pessoa, contou sobre uma entrevista que não foi publicada na ocasião, mas só após a morte do entrevistado, falou do livro, na minha opinião o melhor de todos os tempos, "Cem Anos de Solidão" que um aluno definiu brilhantemente como "Mil e uma noites das relações familiares" e mostrou como a primeira linha de livros brilhantes contam o livro todo. Depois, concluiu com a proposta de escolhermos o livro que mais gostamos e traduzirmos o que é mais importante, a idéia central. Eu ia falar do Cem Anos de Solidão, mas decidi mudar pro Gênesis. O Gênesis é um livro espetacular como Cem Anos de Solidão mas com menos recursos visuais, mas ele expressa angústias, alegrias, capacidades, moral, inúmeros aspectos das emoções e raciocínio humano. Vou de Gênesis porque ele não foi escrito pra ser poesia, mas pra apresentar o ser humano pra ele mesmo. Romper preconceitos logo de cara.

Saímos da aula e minha irmã falou: faz isso que você falou. Escreva contando o que foi que aconteceu na aula. Saia dos seus 140 caracteres do twitter que você já pratica, agora exercite o diferente.

Chequei em casa, sentei no computador, e esse é o texto. Pode ser que amanhã quando eu for reler, eu o odeie e me sinta uma incompetente incurável, já estou consciente dessa possibilidade e me perdoei de antemão, porque a coragem de tentar me justifica.