quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

bullying silencioso

A aula começa e a primeira indicação é o discurso de posse do gostoso do Barack Obama, legal, o cara é tudo de bom mesmo... e então começa a historinha do escritor que acha que é lobo, quer navegar bêbado no barco naufragante, e na verdade descreve como se sente diante dos fatos da sua vida através do seu filme selvagem. A atmosfera é "the same old story" sobre a densidade emocional dos gênios da literatura. ZZZZZZZZ tem um pernilongo gordo sobrevoando a sala que traz na cabeça da platéia a imagem e o som daquelas maravilhosas raquetes elétricas de esturricar mosquito.

A primeira parte da aula reforçava insights que não podem ser negligenciados como: quando se escreve, a carga da experiência pessoal sai no papel. Não só os fatos, mas o que pensamos e sentimos sobre eles também aparecem. A história é contada e o leitor sente o que quem escreveu sente. Quando você encontra quem usa a mesma experiência que você para aprender alguma coisa, você encontrou seu leitor.

Enquanto uma aula que é portadora de DDA desenha tudo o que o professor fala pra tentar se manter concentrada. Intervalo.

Ao chegar do intervalo alguém faz uma piada sobre o bilau do Menelau e quando a tia sentada na segunda fileira ri, ergue sua taça transbordante de vinho que quase derrama em seu casaco branco. Uma moça de cabelo infernal, sentada ao lado da DDA comenta sobre o vinho. A do DDA dá uma risadinha maldosa e mostra o que, além da taça transbordante, a senhora do casaco branco também traz consigo um copinho de plástico transbordante de biscoitinhos e as duas ficam de gracinha babaca no bullying discreto peculiar de quem já está na faixa dos 40. Ah, se elas fossem adolescentes.

Esse bloco da aula caminha entediante. O professor discorre sobre a escrita utilizada como ferramenta de autoconhecimento e autoajuda enquanto ele mesmo utiliza a fala em aula para a seção de elevação da autoestima através de um causo sobre como ele havia sido o herói da musa nerd. Como mulher é foda, a dupla DDA e cabelo infernal começam com bilhetinhos sobre como homem é bobo, os de meia idade ainda mais, que o professor era gato quando mais novo e agora tem saudades do assédio feminino num grau que clama por atenção o tempo todo e nem pode ver e aproveitar como a mulher dele é linda, quando alguém solta uma frase: Quer dizer que escrever é auto-ajuda? (descobriu a América), a tia do casaco branco, já tendo terminado sua taça, vira pra traz, com cara embreagada, um sorriso estranho e solta qualquer coisa em reforço à brilhante conclusão do colega do fundão, a DDA já fica toda alvoroçada esperando o comentário maldoso da cabelo infernal que, sem olhar pra comparsa de bullying, escreve, em meio às palavras de crítica ao comportamento "gatão de meia-idade" do professor, um "TÁ LOKA". A DDA simula uma gargalhada e a cabelo infernal desde a ladeira num acesso de riso. Como ela consegue conter o barulho da risada, começa a chorar, e a DDA colocando pilha sussurrando "não olha pra mim". O professor encara as duas, a DDA fica séria enquanto a cabelo infernal tapa os olhos e a boca imaginando ficar invizível. A do cabelo levanta e sai da sala pra ir gargalhar do lado de fora, a tia do casaco branco vai atrás dela pois precisa ir ao toilete dispensar parte do vinho que havia ingerido. A moça fica sem saída pra poder dar sua gargalhada contida. Pra quem tem acesso de riso, como a cabeluda, deixar de soltar a gargalhada é como perder um bocejo ou espirro.

Na volta da moça que passava mal por ter sua gargalhada podada, a DDA, sem perceber a gravidade da situação da cabelo infernal, continua encarando a pobre coitada que começa escrever no papel histericamente 1 2 3 4 5 6 7 8 9 0 sucessivas vezes até acalmar. Assim que ela retoma o controle, a cabelo infernal, que mantém um blog com o diário de bordo do curso, escreve no bilhetinho do bullying para a DDA: todo mundo entra na dança no texto de hoje.

Só falta agora é alguém que estava lá encontrar esse texto.

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