sábado, 26 de janeiro de 2013

Tédio criativo

Conheça bem o seu leitor e escreva pra ele, blablabla, identifique o problema/questão central para escrever sobre isso, blablabla, o que é importante, faça uma lista, junte o interessante...

A proposta do exercício na sala de aula era mágica: escrever a escaleta do discurso de posse de Barack Obama e depois bater com o real. A engrenagem funcionava com um brainstorming sobre o que era importante falar, em ambos aspectos subjetivo e objetivo e então só restaria dar fluência pro texto. A opção do professor para quebrar o gelo, foi escalar a classe para participar, o que é bem interessante, pois as pessoas passaram a ter rostos, vozes e opiniões. Uma senhora, que é um mulherão, se destacou pela inteligência, cultura, dom da palavra, charme, estilo. A dupla cabelo infernal e DDA cometam entre elas que querem ser igual a ela quando crescerem.

O problema começa porque o professor não tem a articulação necessária para mediar a participação da platéia. Um exercício que poderia ser super interessante e dinâmico promoveu um tédio que rendeu diversos bloquinhos de anotações presentes na sala em obras de arte. No bloco da cabelo ruim, por exemplo, havia belos desenhos do Snoopy, Garfield e Calvin. O que provocou tal fenômeno foi uma votação inútil e interminável para saber em que ordem a classe queria que a escaleta do discurso ZZZ e um pernilongo sobrevoava a sala. Seria ele o mesmo da aula anterior? A cabelo louco se perguntava, em meio a outros pensamentos sobre esse tipo de curso não ajudar a pegar ninguém, então, tinha que ser mais forte em valor agregado e, com certeza, mais divertido. O telefone dela toca, ela sai pra atender. Pra sua surpresa, está rolando o coffee break do outro curso.

Ela desliga o telefone e decide ficar alí assistindo as pessoas do outro curso, dois gatinhos estão no sofá ao lado dela, ela não titubeia: pergunta o se o curso que eles estão fazendo agrada e o papo desenrola. Na cabeça dela, fugir da aula pela qual ela pagou um milhão de dólares nunca fez tanto sentido: naquele momento, ela exercitava sua capacidade de fazer amigos simultaneamente a olhar pra homens bonitos. Aí sim. Isso é divertimento.

Durante o coffee break da classe dela, ficou eufórica contando o feito. Voltou pra aula feliz, e até concentrada. Deu até pra aproveitar um insight: o mundo das idéias é seu campo de batalha. Mas a pegada da aula se manteve entediante, tinha até uma menina pintando as unhas (é, é isso, com esmalte que exalava devidamente seu cheiro pela sala). Agora os planos pra próxima aula é tentar vender calendários em prol dos animais. Afinal, alguma coisa sempre, em qualquer lugar, tem que render.




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